Todo mundo costuma confundir pessoas famosas, sejam autores, sejam cantores, sejam atores. É muito mais fácil, é claro, você confundir Keira Knightley com Natalie Portman, ou Julia Roberts com Sandra Bullock, já que são parecidas fisicamente e estão direto aparecendo fisicamente nas mais populares mídias, do que confundir escritores, no entanto, que ainda estão numa margem um pouco distante em comparação a alguns outros tipos de arte mais adorados pelas pessoas (você sabe que é verdade – ainda que este quadro esteja, graças aos céus, mudando). Às vezes, os nomes são parecidos e você faz uma confusão ali, outra acolá (que nem meu amigo que insiste em confundir toda maldita vez Robert Jordan, autor de A Roda do Tempo, com “o carinha que escreveu o Percy Jackson”), mas nunca é nada demais, é só uma doidicezinha básica que nos acomete de vez em quando. A doidice, no entanto, que me fez confundir essas três autoras – a situação é muito pior, vejam: não confundi só duas, confundi três (o desastre foi consideravelmente mais desastroso que o normal) –, não teve muita explicação. E foi tão certa quanto, às vezes, algumas pessoas pensam que seus sonhos tidos pelas madrugadas aconteceram de verdade, em algum momento do passado: eu tinha certeza que elas eram a mesma pessoa. Como não poderiam ser?
Emily Giffin, Jane Austen e Nora Roberts.
Os títulos dos livros eram meio parecidos (na minha cabeça), os nomes também (céus, como diabos alguém vai confundir Emily com Nora?); as capas não se diferenciavam tanto – principalmente as das duas primeiras –, e os enredos sempre se assemelhavam de alguma forma. Era sempre um amor, que no meio tinha um drama, e depois se tornava algo legal de onde poder-se-ia tirar uma mensagem bacana pra sua vivência amorosa e eu sentimental. Não estou desprezando esse tipo de livro, veja bem: eu leio este tipo de literatura. Sou apaixonado por este tipo de texto. O que estou tentando explicar aqui é o quanto que alguns pontos dos estilos dessas escritoras de certa forma são próximos a ponto de me fazerem ver, na tríade, uma só pessoa. Pensando bem, na verdade, talvez eu esteja até agora tentando ver exatamente como diabos eu confundi essas autoras. Acho que o mais absurdo é ter metido a Jane Austen no meio. Ela tem quantos anos de diferença entre Roberts e Giffin, cem?
O fato é que eu aprendi a diferenciar as três grandes autoras – nunca vou me esquecer da cara de desprezo divertido que a minha amiga Jeniffer (a proprietária do Meu Outro Lado, aliás) fez pra mim quando eu disse que achava que Orgulho e Preconceito havia sido escrito pela Nora Roberts –, e isso de confundir escritores nunca mais aconteceu. Entrei de cabeça e estou afogado até agora nesse mundo bibliófilo maravilhoso, e aprendi a reconhecer nuances de obras, escritores e enredos – até porque resenho, então isso é algo necessário: você conhecer traços, detalhes de estilos de escritores. E é com esse novo ótimo conhecimento obtido pela experiência que finalmente percebi que existe realmente como nos confundirmos com algumas coisas na literatura, e que isso, de certa forma, é normal. Afinal: com uma enxurrada tão grande de literaturas e novos escritores nascendo pra todo lado, é impossível não cometer algumas confusõezinhas.
Mas o fato é que algumas coisas são propositais. Estão ali para causar certa confusão na cabeça do leitor justamente por uma questão de puro marketing. Eu realmente peço perdão a qualquer mágoa que posso causar em citar esse autor que é tão assustadoramente aclamado pelas pessoas e crítica, mas acho que não tem como fugir desta citação: Nicholas Sparks é o maior exemplo disso. Existe um padrão para esse autor, um padrão criado para que seus livros sejam identificados sem que você se preocupe muito em olhar a sinopse. É um padrão feito para você pensar: “Opa, é livro do Nicholas Sparks”. O exemplar é reconhecido tão obviamente que você, se é fã, já pega o livro com pressa, ou se não gosta do autor, já nem se digna muito em olhá-lo. Isso, apesar de ser um golpe de marketing e divulgação bastante astuto, tem seus furos quando se é considerada essa gama de pessoas que nem ao menos olha o livro por saber que o mesmo já é do autor em questão. Sparks escreve sobre romance, obviamente: este é seu estilo. Entretanto, existem obras e enredos do mesmo que sim, se divergem daquilo que é seu costumeiro e que possuem uma originalidade interessante, fatores que contribuiriam, sem dúvida alguma, para que os livros de Sparks alcançassem mais leituras e estantes. Não vou afirmar que algumas de suas publicações não alcancem leitores que não exatamente apreciam romances e seu estilo, mas se os designs de capa se alternassem, saíssem do que é comum – não fosse quase sempre um casal caucasiano se olhando e quase se beijando –, quem sabe o quanto mais a escrita do autor poderia alcançar? Um grande amigo meu (Jônatas, dono do Alma Crítica), leitor assíduo do autor, já me afirmou que existem leituras diferenciadas do que se tem ideia do que seja “livros de Nicholas Sparks”: livros lotados de exacerbado sentimentalismo. “Ele é realmente um bom autor”, ele me disse, “O problema é que todo mundo pensa que Sparks é só Querido John e Um Amor para Recordar, e não é bem assim”. Ele citou Um Homem de Sorte e O Melhor de Mim como leituras que apresentam propostas diferentes, do Nicholas Sparks. Vão entrar, sem dúvidas, pra minha lista de leitura, para que eu realmente tire isso a limpo. (Quando ela folgar um pouquinho, de preferência)
E não é só com Nicholas Sparks que isso acontece, aliás. Se você prestar atenção nas capas dos livros de Emily Giffin (sempre seu nome em letras garrafais escrito por cima de um fundo opaco, as capas com uma fotografia romântica e paisagista), nos de John Green (aquelas capas com estilo divertido, nerd, com fontes diferentes do usual), nos de Harlan Coben, nas de Cecelia Ahern (ela é quase o Nicholas Sparks versão feminina, nessa questão de capas – o último lançamento pela editora Novo Conceito deu uma diferenciada no que estava sendo publicado, graças aos céus), e de todos aqueles romances de banca, você notará padrões. É claro que padrões são estritamente necessários em alguns casos, como em séries de livros (como Percy Jackson, Harry Potter, Beautiful Creatures, Ciclo da Herança, As Crônicas do Gelo e Fogo) e nos casos de um design de capa padrão de todos os livros de alguma editora (o selo Alfaguara da editora Objetiva é exemplo), mas quando este design se torna taxador e obviador de uma obra por conta de um autor, eu pessoalmente discordo. Há um grande risco de tirar a identidade do livro e torna-lo vítima de prévios conceitos de leitores.
Como alguém que pretende um dia viver apenas de literatura e ter obras publicadas, honestamente não apoio este tipo de padrão de marketing e, ainda num espírito de total franqueza, não gostaria nem um pouco que fizessem isso com minhas obras. Consigo entender todo esse método de divulgação, e até consigo pensar que isso possa ser algo mais barato para as editoras (para quê pagar por outra ilustração de capas, e possivelmente por outro ilustrador, enquanto se tem ali um modelo de design pronto e viável?), e também inúmeros outros motivos e dificuldades de editoras no Brasil hoje em dia para bancar publicações e muitos dos caprichos de escritores, mas, como aspirante a escritor profissional, não concordo. Ainda que algo mais barato, ainda que algo não tão espalhafatoso ou As Crônicas do Gelo e Fogo (que, pra mim, é um exemplo cabal de um design de capa impecável – esse ilustrador francês, o qual o trabalho deve custar mais do que qualquer um de nós, reles mortais, pode pagar, é realmente brilhante), acredito totalmente que diferenciar e inovar são sempre opções válidas para surpreender e encantar aqueles que as editoras, os escritores, os revisores e todos os que trabalham com esse/nesse meio editorial querem impressionar e agradar: os leitores.
Mas acho que, talvez, tenhamos que esperar o dia em que a literatura no Brasil seja tão apreciada e valorizada como é em países como Inglaterra, Estados Unidos, França – e não vamos tão longe: Argentina também, logo aqui do lado. Talvez tenhamos que esperar este dia para que possamos exigir de nossas queridas e quebradiças editoras tudo o que realmente queremos quanto a publicação, divulgação e design. O que coloca sempre nós, que escrevemos críticas em relação ao mundo editorial brasileiro, em saias justas e entre a cruz e a espada. Afinal: entender o lado da editora? Entender o lado do escritor? Entender o lado do leitor?
Se possível, todos. Sempre todos.
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