quarta-feira, 26 de março de 2014

como não amar KELLY CLARKSON?

E é com muito prazer que anuncio, senhoras e senhores: esta é a estreia da nova coluna do Blog Achou o Quê?, a "Como Não Amar?"! Cada post terá como protagonista uma pessoa famosa a qual admiro e adoro, e sobre essa irei pesquisar e falar sobre para vocês! Aproveitem!


Acho que eu não poderia escolher pessoa melhor para estrear essa coluna aqui no Blog. A verdade é que, quando eu parei por uns minutos, há alguns dias, para fazer uma lista das pessoas que fariam parte dela, a primeira que veio à minha cabeça foi essa texana. Não só pelo meu profundo amor por essa mulher – para deixar logo tudo em pratos limpos, ela é minha cantora favorita no mundo inteiro –, mas pela admiração que tenho por sua luta, por sua determinação e pela sua inspiradora personalidade. Kelly Clarkson é uma das melhores pessoas que já ouvi falar do mundo da Música, em todos os sentidos: como cantora, como personalidade pública e, principalmente, como ser humano.


Clarkson nasceu em Forth Worth, Texas, uma pequena cidade de Nashville. Praticamente criada apenas pela mãe, descobriu-se para o canto quando, no corredor da escola em que estudava, uma professora a ouviu cantando por diversão e com ela se surpreendeu. Entrou para o coral da escola, cresceu, e finalmente, quando teve idade o suficiente para seguir seu próprio caminho, saiu de casa em busca do sonho de ser uma cantora profissional. Após tentar por inúmeros caminhos que não deram assim tão certo – inclusive ser desprezada num teste para participar de um grupo teen por ter “uma voz muito poderosa” – e um desastre com a casa onde morava (que pegou fogo), as audições da primeira edição do American Idol foi onde buscou, por impulso de uma amiga, algum caminho de luz. Graças a essa amiga, Kelly Clarkson acabou se tornando não só a cantora mais conhecida mundialmente revelada pelo American Idol como também a com maior vendagem. Kelly Clarkson já foi considerada a maior voz do pop contemporâneo por uma famosa revista americana, conquistou três Grammy e tem mais de vinte milhões de álbuns vendidos; até no Guiness Book Clarkson já marcou presença! Após o grandioso sucesso de seu último álbum lançado, Wrapped In Red – um álbum natalino que se tornou o álbum de Natal mais vendido do ano, do qual um especial de TV foi gerado (o Kelly Clarkson Cautionary Music Tale) –, foi chamada até mesmo de “a nova Rainha do Natal” pela crítica. A cantora, que casou-se recentemente com Brandon Gladstock (e que está grávida de uma menina!), agora se prepara para lançar um novo projeto voltado para o gênero Country, gênero o qual sempre esteve relacionada por amizades e paixão.

Sempre gostei de música. Música, que sempre foi pra mim uma paixão imensa, acabou se tornando mais que isso no dia em que decidi que queria cantar. Eu realmente não era afinado, não tinha habilidade vocal nenhuma; tinha uma voz simples, um pouco normal, grave. Mas eu queria cantar. Queria muito cantar. Nessa mesma época, descobri que era moda nos EUA você fazer sucesso como cantor se você conseguisse atingir notas vocais altíssimas – tradução: se você gritasse de um jeito potente e afinado. Eu curtia muito Hayley Williams, uma potentíssima cantora, mas ela, na minha percepção, tinha uma voz muito difícil de alcançar, principalmente pelo fator timbre/voz: ela é um Soprano (a voz mais aguda na escala vocal feminina), e eu estava penso entre um Tenor (a voz masculina mais aguda) e um Barítono (a voz masculina intermediária, nem a mais grave, nem a mais aguda); minha voz ainda estava se formando, se adequando à música, então começar com coisas como Hayley Williams era algo realmente difícil. No entanto, eu lembrei-me de uma cantora a qual uma grande amiga havia me apresentado. A tal Kelly Clarkson tinha aquela música famosa da novela, Because Of You (a única dela que eu realmente havia conhecido), e eu me meti a ouvi-la e tentar cantá-la. E não foi que deu certo? Apesar de Kelly também ser um Soprano (e, pessoalmente, acho ela mais difícil de cantar que Hayley Williams), minha voz encaixou-se na dela de uma forma que eu realmente nunca poderia imaginar. Eu podia cantar Kelly Clarkson. Eu conseguia cantar Kelly Clarkson. Foi aí então que meu mundo musical começou a girar em torno dela.

Sabe aqueles artistas que têm altos e baixos na carreira? Talvez Kelly Clarkson seja um dos maiores exemplos disso. Sua vida, que começou com uma grande explosão de fama, já que ganhou um dos mais populares e primeiros reality shows musicais do mundo, teve grandes impactos causados pela indústria da música e toda essa pressão que sempre ouvimos falar os artistas desse meio sofrerem. O primeiro foi justamente esse: ser lançada numa vida de sucesso muito rapidamente. Como todo artista, Kelly Clarkson precisou se acostumar com isso, já que essa seria sua vida a partir daquele momento; ela poderia ter optado por desistir, porém, não. Era seu sonho. E caiu com força em seu primeiro álbum, Thankful, lançado em 2003: um poderoso álbum que mistura R&B, Soul e Pop, o qual foi um sucesso de vendas razoável para uma estreante oriunda de um reality show – alcunha a qual Clarkson precisa lidar desde cedo. Existe um grande preconceito em relação a artistas que são descobertos nesse tipo de programa, e Clarkson foi extremamente julgada e sofreu com variadas e perversas críticas por ter sido descoberta no American Idol. Ela precisava se provar uma grandiosa artista, precisava emplacar mais do que o fez com os singles A Moment Like This (que entrou para o Guiness Book pela estrondosa venda) e Miss Independent (que estourou nas rádios americanas e mundiais). Precisava mudar sua imagem, colocar mais de si mesma nas músicas. Pegar mais pesado.

E foi que surgiu o álbum de maior vendagem, o Breakaway, que a consagrou de vez no mundo da música. Hits como Since U Been Gone (ganhador do Grammy de “Melhor Performance Vocal Pop Feminina”), Breakaway (música tema do filme O Diário da Princesa 2) e Because Of You (considerada uma das maiores baladas da história) levaram-na a inúmeros prêmios, capas de revistas e ao auge da fama: mais de treze milhões de cópias foram vendidas, e a tornaram a artista mais reconhecida e “badalada” de 2005 e 2006.

Entretanto, o seu primeiro “baixo” na carreira aconteceu. Nos preparativos de um álbum que Clarkson tinha como objetivo fazer para si mesma, composta por si e com mais ainda de sua veia musical, houve contradições em relação ao lançamento e as músicas compostas pela artista. A RCA, gravadora de Clarkson, haveria rejeitado as músicas que a cantora compusera, e uma briga entre cantora e gravadora iniciou-se. Há quem diga que Clarkson até mesmo recebeu propostas em dinheiro para mudar algumas de suas músicas do CD e que inclusive quiseram lhe fazer cantar uma regravação de Lindsay Lohan, coisas que a texana recusou imediatamente. Foi depois de lutas que Clarkson conseguiu lançar seu terceiro álbum, o My December, um álbum de composições belas, introspectivas e poéticas, considerado por muitos fãs o melhor álbum da cantora – em contramão, é seu álbum de menor divulgação (o que dizem ter sido boicote da própria gravadora) e com menos singles. A briga entre Kelly Clarkson e a RCA foi tão intensa que dizem até mesmo que a cantora chegou a sofrer agressões verbais sérias de Clive Davis, o “chefão” da gravadora.

O próximo álbum de Kelly Clarkson, All I Ever Wanted, ainda que não tão poderosamente divulgado, alcançou resultados inesperados. O maior susto foi, logo na semana seguinte à do lançamento da música My Life Would Suck Without You, primeiro single do álbum, a música alcançar o grandioso número 1 na parada mais importante dos EUA, estando uma semana antes na posição simples de 97º na Billboard Hot 100. Foi o maior salto de uma música da história da Billboard, mérito que rendeu a Clarkson outra entrada no Guiness Book. Foi também na era desse álbum que Kelly Clarkson foi considerada por uma famosa revista americana uma das cem mulheres mais importantes do mundo, sendo citada como “a maior voz do pop contemporâneo”. No entanto, a sua nova entrada para o sucesso veio realmente quando o álbum Stronger foi lançado. Um álbum de “pazes” com a gravadora, de acordo com Clarkson, a qual revelou ter sido gravado sem embates e com vontade, já que era realmente o que a cantora queria fazer musicalmente. Kelly voltou aos topos das paradas de sucesso e a ser comentada em todo o mundo, principalmente após sua música What Doesn’t Kill You (Stronger) virar um poderoso hit radiofônico e global. Esse álbum é considerado importantíssimo, tanto pelos fãs quanto pela própria cantora, já que se trata de um álbum feito com prazer pela artista, e também por ser um álbum de poderosas doses vocais e grandiosa qualidade (tão aclamado pelos vocais de Clarkson que com este que ganhou outro Grammy, o terceiro de sua carreira: “Melhor Álbum Vocal de Pop”).

Um álbum reunindo seus grandes hits também foi lançado (o “Greatest Hits – Chapter 1”), e logo em seguida outro triunfo, tanto vocal, tanto em relação à produção, à diversidade musical, foi alcançado pela cantora: Wrapped In Red, um sonho de Clarkson que foi finalmente lançado. O álbum de Natal, lançado no fim de 2013, foi considerado o melhor álbum natalino do ano, e foi também o álbum com essa temática mais vendido. Clarkson foi aplaudida pela grande potência vocal e riqueza do CD, que inclui tanto músicas clássicas natalinas (clássicos do Cinema, culturais, clássicos da Broadway) quanto composições próprias. É considerado pela cantora seu álbum favorito, até então.

Não foi só por eu ter me construído como cantor em cima de Kelly que ela é minha cantora favorita, não só por eu ter me espelhado muito nela, mas principalmente pela grande pessoa que Kelly Clarkson é. Vou lhes dizer uma coisa: se há algo que eu realmente admiro em alguém é seu coração e sua personalidade. Isso pode soar estranho, mas eu não gosto de um artista que tenha uma personalidade que não me agrade, que me irrite ou que me enoje; posso curtir uma ou outra música, mas paixão, por ele, de verdade? Eu nunca terei. O que torna alguém um ídolo, pra mim, é o conjunto. É aquela pessoa como ser humano, como cantor, como intérprete, como artista, como mente pensante, como personalidade, como índole e muito mais aspectos; eu realmente sou um chato para admirar alguém. E encontrei em Kelly Clarkson alguém tão absurdamente admirável que me perdi, realmente, de amor.

Alguém que nunca precisou fazer bobagem alguma com a própria vida e carreira por apelação, alguém que nunca se meteu em problemas mais sérios (como, por exemplo, judiciais); alguém, como costumo dizer, super de boa. Kelly é, antes de tudo, uma pessoa incrível. Pode ser dito ferinamente que eu não a conheço pessoalmente para saber disso, e realmente não conheço, porém confio cegamente na minha capacidade de sensibilidade e percepção, além de acompanha-la por muitos anos para ter total e completa certeza disso. Kelly Clarkson é extremamente amável. É humana, antes de tudo. É um ser humano doce, é extremamente gentil, e absurdamente engraçada e divertida – tudo para Kelly é riso, tudo é feito rindo, tudo é construído em cima de diversão e prazer. Não existe na cantora uma aura pesada que vez ou outra identificamos em alguns artistas, ou uma aura forçada. Não: Kelly Clarkson é Kelly Clarkson. Ela é simplesmente ela. Aquela pessoa que está ali, numa entrevista, é a mesma por detrás das câmeras; o sorriso é o mesmo, o riso é o mesmo, a pessoa é a mesma. Ponto final. Isso é algo que me encanta realmente em alguém: alguém que é quem é, sem máscaras ou qualquer forma de mentira.

Acho que outra coisa também admirável é o fato de Kelly ser muito corajosa. Vejo-a realmente como um puta mulherão. Ela passou por tanta coisa, tantos altos e baixos, tanto sofrimento, e continua firme, forte e apaixonada pelo que faz, sem dar o braço a torcer ao que dela querem fazer por conta de imagem e mídia. Kelly também tem minha profunda admiração pelas resistências e combate a tudo o que foi dito e comentado sobre seu peso. Perdoem-me a sinceridade, mas, pelo amor de Deus: por quê peso realmente importa? Qual é a desse maldito conceito de beleza mundial da mídia? O nome dela já esteve em inúmeras bocas malévolas e irônicas por conta do peso que adquiriu, coisas todas que foram, se não dignamente ignoradas pela artista, respondidas com simplicidade com frases como “eu engordei porque sou um ser humano” e “por que você quer perguntar sobre o meu peso? Eu tenho um trabalho pra mostrar, para conversar sobre ele, e você quer saber o porquê de eu ter engordado?!” – com as quais eu concordo em cada vírgula. Os fatos de Kelly ter se aceitado do jeito que é (convenhamos: Kelly nunca foi magra – sempre teve suas curvas), de ter tido intrepidez contra todas as críticas da mídia e ainda ter feito de um single uma música que fala exatamente sobre isso (Mr. Know It All) são realmente, realmente dignos de aplauso. Não são todas as pessoas que são fortes o suficiente para lutarem contra os Senhores Sabem Tudo do mundo, suas palavras e mentes grosseiras, e ainda conseguirem ser felizes.


Além de que, vocalmente falando, não se pode negar a qualidade vocal magnífica, inúmeras vezes surreal, de Kelly Clarkson. Com uma voz plena e volumosa, a cantora vai de bons e afinados graves até agudos poderosíssimos e altíssimos, às vezes incrivelmente estridentes e fora do normal, coisas que embasbacam os fãs e a crítica. É, sem dúvidas, um dos vocais mais poderosos do mundo Pop atual – vocais os quais, aparentemente, só melhoram e amadurecem. Músicas como Anytime, Addicted, Sober, Whyyawannabringmedown, Let Me Down e a brilhante versão do clássico Run Run Rudolph são grandes provas do potencial de Kelly Clarkson como cantora.

A minha questão com Kelly Clarkson é algo que já se tornou tão intrínseco à minha vida que tê-la como ídolo passou de uma simples sensação. Hoje em dia é algo simples: ela é importante na minha vida, simples, ponto, acabou. Uma mulher que não só influenciou minha vida e meus gostos, mas como continua influenciando. E todos esses motivos apresentados ainda são muito poucos para demonstrar o quão amável esta cantora e vencedora é. 

Como não amar a doce, gentil e talentosíssima Kelly Clarkson?


Confira uma playlist de grandes músicas de Kelly Clarkson preparada para você!

quarta-feira, 19 de março de 2014

de J. K. Rowling, CASUAL VACANCY (2012)


Título no Brasil: Morte Súbita;
Quem escreveu? J. K. Rowling;
Editora: Nova Fronteira (selo da editora Ediouro);
Tradução: Izabel Aleixo e Maria Helena Rouanet;
Gênero: Ficção inglesa;
Nota (de 0 a 5)5.





Quis este livro desde a primeira vez que ouvi falar dele. Entretanto, por um motivo chamado “falta de dinheiro no bolso” – já que ele costumava ser muito, muito caro em todos os sites e lojas em que eu o via –, protelei por mais de um ano depois de seu lançamento para finalmente tê-lo em mãos (e não por mérito próprio, mas sim por presente de aniversário – aliás, Adauto, você marcou minha vida me dando de presente um dos livros que mais queria ler e me agradaram na vida: obrigado). Esse hiato de tempo longe de tê-lo em mãos para finalmente lê-lo, entendê-lo e formar minha opinião sobre foi, acho, extremamente necessário e saudável. Amadureci literariamente, amadureci como escritor; amadureci também de inúmeras outras formas, todas necessárias para que eu pudesse ver, com olhos maduros, críticos e devoradores, a obra que J. K. Rowling, a famosa autora da série de livros mais vendida no mundo – Harry Potter –, havia lançado dizendo ser seu “primeiro livro para adultos”.

Prefiro não enrolar muito dessa vez na introdução, porque, como não acontecia em muito tempo, estou ansiosíssimo e animado para discutir logo de uma vez o porquê deste livro ter se tornado, para mim, um dos melhores livros que já li na vida e um dos que mais me ensinou, emocionou e tocou.

Morte Súbita fala sobre a realidade do vilarejo de Pagford, o qual, afogado em discussões locais, dramas pessoais de seus moradores e suas ambições íntimas e públicas, é o palco para inúmeros acontecimentos valorosos e intensos numa realidade semi-interiorana da Inglaterra. Pagford – que é como qualquer outro lugar do mundo, com os mesmos tipos de pessoas que podemos encontrar em qualquer esquina, com problemas comuns e verdades universais – é o âmbito para o desenrolar de uma trama intrinsecada, complexa, intensa e cheia de detalhes e mistério. Uma grande história sobre um grande mundo – um mundo plural e bem construído, de um pequeno vilarejo da Grã-Bretanha.

Eu não poderia começar a discutir sobre Morte Súbita antes de deixar clara a minha opinião sobre esta literatura, já que as opiniões são normalmente muito divergentes, de pessoa para pessoa, e eu quero deixar logo explícito pra onde o rumo desta resenha vai: eu amei Morte Súbita. Eu sou apaixonado por este livro. E o grande motivo, sem dúvida alguma, que resumiria o que causou o meu encantamento pelas 500 páginas desse livro se resume numa palavra: riqueza. Morte Súbita é um dos livros mais ricos e bem planejados que já li. Extremamente detalhista, com esses detalhes embolados numa linearidade contínua, sem falha alguma no ritmo que a história pede e é colocada, que simplesmente flui entremeada em mistério e nas doses inesgotáveis de pluralidade de enredo e profundidade de personagens, Morte Súbita é uma obra que, intensa e rítmica, nos leva aos descobrimentos do enredo num desbravar impetuoso que se mantém até a última página. Você descobre, entende, junta detalhes e monta o quebra-cabeça principal até as últimas páginas, o que o torna um livro algemador: um livro que prende, cativa.

Aliás, a forma com que J. K. Rowling conseguiu costurar a história de Casual Vacancy é fenomenal. Além do fato de que o fluxo do tempo foi um tanto singularmente – porém otimamente – planejado, o modo o qual tudo, tudo está interligado é absurdamente inteligente e articulado. Como escritor, diria que até quase impossível de se fazer. Cada personagem está, de alguma forma, ligado ao outro; cada trama tem a necessidade de outras para ser continuada; cada ponto pessoal nos personagens é influenciado por motivos que, comumente, vêm de atos e acontecimentos passados, ou necessitam, esperam acontecimentos futuros para terem seus sentidos completos, na trama. É de causar inveja a forma com que tudo é interligado, como uma grande teia de aranha: nada é solto, nada é desligado. Tudo está unido numa rede de informações complexa e sombria que forma o enredo. E esta forma complexa, que é ao mesmo tempo simples de entender e que exige grandes doses de bom senso, com que tudo é organizado é fascinante. Fascinante. Fiquei embasbacado com cada detalhe, encaixe de peças.

Quanto à escrita de J. K. Rowling, acho que não tenho na manga tantos adjetivos para aplaudir. J. K. Rowling é estupenda. É acessível, por vezes lindamente poética; cheia de floreios metafóricos, sem falhas de intensidade, sem deixar com que o ritmo de tudo caia (pois, quando isso acontece, a coisa se torna um desastre). Bastante detalhista – mas sem ser cansativa –, dividida interminavelmente entre a sutileza e a crueza. Isso, na verdade, me chocou um pouco: o jeito com que Rowling consegue ser tão sutil em momentos, e depois transformar a escrita, antes um tanto doce, em algo cru, verdadeiro, real, forte. Isso, na verdade, varia muito dos personagens, e isso também é fascinante: além dela respeitar um tipo de escrita para cada personagem sem perder a própria forma de escrever, o personagem, muitas vezes, mistura-se à narração, e narrador e ser descrito, em momentos brilhantemente escritos (sem confundir o leitor de forma que atrapalhe o seu fluxo de leitura), tornam-se um só. Talvez eu não tenha conseguido descrever aqui o quanto acho isso fascinante: a capacidade de continuar com o próprio estilo, mas alterá-lo levemente para torna-lo condizente com o personagem, e sua personalidade. Fiquei apaixonado por isso.

E por estarmos falando da escrita, talvez agora seja a hora de citar algo considerado muito polêmico nesse livro: a questão dos palavrões. Sinceramente, e perdoe-me se você que está lendo achou o contrário, eu não entendo o porquê de tanto alarde (isso sendo completamente educado, porque eu queria mesmo era usar a palavra “frescura”) por conta de palavrões. Com toda a sinceridade: só porque a autora passou dez anos escrevendo literatura infantil ela não tem o direito de amadurecer sua forma de escrita? Morte Súbita é um livro adulto, e as partes em que continham palavrões necessitavam dos palavrões pelos traços dos personagens que a autora planejou e criou. Acho, honestamente, desnecessária e até ridícula toda a crítica com relação ao palavreado por vezes chulo da autora, na obra. Isso de forma alguma desmerece a qualidade da escrita. Pelo contrário: torna-a mais fidedigna e completa. Eu digo sem sombra de dúvidas que personagens como Krystal Weedon, Terri Weedon e alguns outros que enunciam o tão polêmico palavreado não teriam tido a profundidade e convencimento que tiveram/apresentaram se alguns caralhos e porras não houvessem sido escritos. É preciso, sim, analisar o contexto do personagem, entender o porquê, emocional, psicológica e até geograficamente aquele ser disse o que foi dito, seja de forma chula, seja de forma pseudocorreta. Dessa forma, sim, será entendido os motivos, e compreendida a autora e sua criação. (No entanto, honestamente, acredito que é preciso um pouco menos de falso moralismo, também)

E, já que foi dita a palavra “polêmico”, é necessário dizer, também, que Morte Súbita é um livro extremamente polêmico pela pluralidade de assuntos que se propôs a trabalhar. Pedofilia, transtornos mentais, bullying, ambição, ciúmes, homoafetividade (de forma singela, mas satisfatoriamente trabalhada do ângulo que foi proposta), inescrupulosidade, traição, e inúmeros, inúmeros, inúmeros outros que, infelizmente, não tive a ideia de listar para aqui escrever: os mais diversos assuntos são incrivelmente trabalhados, descritos e pontuados, sejam dentro das várias subtramas, sejam na trama principal, e de uma forma franca e madura, sem que o livro se pareça com um drama mexicano. E, para os despreparados de plantão – como eu fui pego de surpresa –, às vezes a franqueza da autora é digna de uma tapa na cara justamente pelo nível de introspecção e profundidade psicológica com que se propõe a trabalhar alguns personagens e pontos do enredo. Eu destacaria, sem sombra de dúvida alguma, Bola/Stuart, Sukhvinder Jawanda e Krystal Weedon como perfeitos, perfeitos exemplos do que acabei de dizer. São personagens chocantes, em seus próprios jeitos, em suas singularidades. Como a maioria, na verdade.

O que consigo perceber, aqui, depois de tudo o que foi dito, e lembrando-me das inúmeras críticas e resenhas lidas/ouvidas, é que Morte Súbita é aquele tipo de livro que ou você gosta profundamente e se encasqueta por lê-lo e descobri-lo, ou você logo se cansa e desiste. É claro que foi um livro muitas vezes mal entendido e julgado de forma errada por muitas pessoas, mas eu consigo compreender o que realmente pôde incomodá-las. Na verdade, isso, pra mim, faz o livro parece ainda mais intenso e bom: não seria uma coisa qualquer que causaria tamanho furor como o primeiro livro adulto de Rowling causou. E essa é uma das provas de que é um livro que precisa ser lido – e mais: que precisa se tornar um clássico moderno.

Eu ri, chorei, enfureci (muitas vezes no telefone, trêmulo, com minha amiga Mayara no telefone, que havia lido antes de mim e dividiu comigo todos os sentimentos e sensações durante a leitura) e senti muitas outras coisas lendo Morte Súbita. Foi um livro que me proporcionou uma quantidade e intensidade de sensações que eu só havia experimentado antes com poucos livros, e isso o tornou, para mim, uma leitura inesquecível. Inesquecível. Eu realmente sou outro depois que li Morte Súbita, assim como fui outro quando li Comer Rezar Amar de Elizabeth Gilbert (livro que gabo sempre por ser meu livro favorito), e também como acontecia quando terminava de ler cada um dos livros do bruxinho Harry Potter.

Estou percebendo agora que talvez esse seja o trabalho de J. K. Rowling na minha vida: me transformar. Me amadurecer. E me enriquecer. E, mais uma vez, depois de outras sete, ela conseguiu.


Você tem algo a acrescentar? Alguma crítica a fazer? Discorda, concorda com o quê? Deixe nos comentários!

terça-feira, 4 de março de 2014

playlist: SWEET FOOLISH HAPPINESS


Sabe quando você se sente feliz? Só feliz? Alegre? Sem nenhum profundo motivo ou qualquer real e reconhecível razão? Sabe quando você simplesmente acorda... E o sol está mais brilhante que o normal? E o seu sorriso não sai do seu rosto? Quando por dentro você é todo primavera, e no seu sorriso brilha o mais fulgurante e inspirador verão?

Sabe quando a felicidade, a alegria não têm motivos – motivo realmente algum, e você acaba se sentindo um tolo? Um doce tolo?

A playlist Sweet Foolish Happiness é para aqueles momentos em que nos sentimos exatamente assim: motivos, bobamente alegres sem motivo algum. E para aqueles que amam a pureza da felicidade inexplicável: o melhor e mais gostoso tipo de felicidade que pode existir.
Sweet Foolish Happiness by Breno Torres on Grooveshark
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