terça-feira, 22 de abril de 2014

de Richard Curtis, ABOUT TIME (2013)


Nome no BrasilQuestão de Tempo;
Gêneros: Romance/Drama;
Roteiro: Richard Curtis;
Elenco: Domhnall Gleeson, Rachel McAdams, Bill Nighy, Tom Hollander, Lydia Wilson;
Nota (de 0 a 5): 4.


Eu confesso que o primeiro motivo para meu interesse em assistir About Time foi Rachel McAdams. Quando vi o banner desse filme bem de frente pros meus olhos no site onde costumo fazer meus lindos grátis downloads e vi a imagem da linda Rachel McAdams sorrindo docemente, criei grandes expectativas, e de forma alguma meus dedos se seguraram até que o download estivesse devidamente em andamento. Foi um filme que não ficou tão na moda assim – ao menos não ouvi falar dele tanto; achei seu trailer perdido pelo Youtube dias antes de ver o banner e já fiquei enormemente ansioso para assisti-lo –, e eu estava procurando por filmes basicamente muito comentados para assistir e me divertir. Não sei porquê. Talvez pensando futuramente em escrever críticas pro Blog. Mas o fato é que isso mudou, e, graças aos céus, eu saí da rotina de baixar filmes em alta e baixei About Time. Pois é um filme que não me arrependi de ter assistido.


O filme conta a história de um jovem rapaz que, quando vivia na Cornuália, sul da Inglaterra, descobriu com seu pai que os homens de sua família têm um poder: eles podem viajar para qualquer momento do passado, desde que já tenham estado fisicamente presente no momento em que desejam voltar. Após usos e mais usos e as primeiras descobertas sobre seu poder, o jovem ruivo finalmente muda-se para Londres para tentar ganhar sua vida, e é lá que conhece o doce amor de sua vida, Mary. É neste instante que a vida dos dois se cruzam, que os laços familiares se tornam intrínsecos e mais e mais Tim aprende sobre si mesmo e seu dom. Seria a vida uma questão de tempo? Serão os dias tão contáveis e imutáveis? O quanto vale a pena alterar seu curso de vida?

É um lindo, lindo filme. Pessoalmente, About Time me conquistou demais. Leve, deliciosamente sutil, este filme é aquele tipo de filme o qual você deve assistir para passar uma tarde/noite chuvosa, sem expectativas, com o coração inteiramente aberto. É um filme que, trabalhando temáticas familiares e certo tom de fantasia (presente na questão das viagens do tempo), de forma alguma traz um peso significativo de profundidade ideológica e aprendizagem: simplesmente as oferece, com sabedoria e maciez. About Time é uma bela metáfora sobre a vida de todos nós, e sobre o uso que fazemos dela e de seu contador oficial: o tempo. Eu aprendi coisas assistindo e ouvindo os ensinamentos que são oferecidos no Longa. É um filme, acima de muita coisa, com ensinamentos sábios. Ensinamentos que, por vivermos nossas vidas caóticas e por muitas vezes apressadas, deveríamos receber o mais cedo possível na vida. 

Essencialmente familiar, About Time traz aquele velho e gostoso estilo de filme o qual não tem a necessidade de alcançar picos de tensão para que o expectador se impressione com o enredo. Eu pelo menos não o vi assim. Vi em About Time um filme tranquilo, pacato e despretensioso, com uma linearidade tensional ótima. Com personagens encantadores e interessantes, o forte desse filme está exatamente naquilo que não ele não promete. Se você olhar para o pôster do filme, obviamente pensará que é um filme de romance, e daí então inesgotáveis de ideias sobre o que é um filme de amor irão passar por sua mente. Coisas que certamente não acontecem neste Longa. Sou um profundo amante dos clichês de romances, os clichês clássicos e encantadores que nos arrebatam na história de amor, mas convenhamos: também não é muito gostoso quando uma história de romance nos surpreende? Sai do convencional? Se você concorda com esta pergunta, eu recomendo que assista About Time.


E, se não concorda, eu recomendo da mesma forma, já que meu argumento seguinte é que não é por ser um romance não-convencional que ele é anticonvencional. A não-convencionalidade de About Time existe pelo simples fato de que este filme não traz como foco o amor romântico de dois estranhos. O foco desse filme vai além. Vai ao amor familiar, à durabilidade e importância do amor quando este já está maduro e existente, e, como já dito, à proposta inicial do filme: falar sobre o tempo. Sobre o que é o tempo na vida do protagonista (e na de todos nós). Portanto, amantes de romance, fiquem tranquilos: vocês encontrarão tudo aquilo que veneram num filme desse calibre. Só não esperem que seja um filme essencialmente romântico, pois aviso: não é.

Gentilmente engraçado, também tem boas atuações, o que, confesso, me surpreendeu um pouco. Rachel McAdams, é claro, continua com seu incrível talento e seu lindo jeito de atuar. A meu ver, é uma grande atriz e merece grandiosos papeis. Domhnall Gleeson, que faz o protagonista (E FEZ O GUI WEASLEY, GENTE), também me surpreendeu de forma boa; Lydia Wilson, que interpreta a irmã do protagonista, também me agradou muito. Em suma é um filme aprazível, porém, o que não o fez levar “5”, na minha opinião (ou seja: Ótimo), foi por, talvez, vez ou outra ter se tornado um pouquinho arrastado. O ritmo no início é um pouco caído; a história começa a tomar um rumo realmente bacana um pouco depois, o que não tira o teor delicioso da história, é claro. Porém, talvez devesse ter sido melhor trabalhado o início.

O que não faz desse filme, repito, ruim. É um filme muito o bom, o qual traz ensinamentos que podem mudar aqueles que o assistem, e inspirar. About Time é uma história sobre o tempo, como manejá-lo em nosso dia-a-dia, e amor, com suas mais diversas ramificações. Recomendo About Time a todos aqueles que desejam assistir um filme para relaxar, quem sabe chorar um pouquinho (como eu – mas eu choro até com comercial da O Boticário, então...) e se renovar. Vale a pena conferir.




E você, achou o quê? Concorda, discorda de algo? Tem pretensão de assistir o filme? Conta pra mim nos comentários!

domingo, 13 de abril de 2014

de Michela Murgia, ACCABADORA (2009)



Título no Brasil: Acabadora;
Quem escreveu? Michela Murgia;
Editora: Alfaguara (selo da editora Objetiva);
Tradução: Federico Carotti e Denise Bottmann;
Gênero: Drama, Familiar, Ficção italiana;
Nota (de 0 a 5)5.


não tem fotinho de apresentação porque não achei na internet uma decente pra cortar
sorry.


Foi em alguma promoção relâmpago nesses sites grandes que vi Acabadora à venda, pela primeira vez. Eu nunca havia ouvido falar do livro, a verdade é essa, e talvez, sendo sincero, se eu houvesse o visto em qualquer outro lugar que não numa estante virtual sob o preço promocional irrisório (tão irrisório que quase ridículo) de dez reais não o haveria comprado. Pra falar a verdade mesmo, eu não cheguei nem a comprar o livro: mandei o link pr’uma amiga super legal e me aproveitei da data próxima do meu aniversário pra fazer a chantagem emocional costumeira.

“Compra pra mim?”, perguntei pra ela.

“Compro.” Ela disse prontamente. “Só porque é teu aniversário.”

E, apesar de ela não ter dito, aposto que completou em pensamento essa frase com “e porque tá com esse preço”.

Havia, acho, mais de trezentos livros em promoção, mas foi Acabadora que me chamou verdadeiramente a atenção, dentre vários. Pra começar, se você quer saber, essas promoções gigantes de sites gigantes são meio enganosas: eles só colocam livros que costumam não realmente interessar as pessoas para se livrar logo deles. Nada contra este tipo de livro e quem o lê, mas eu realmente não vou gastar dinheiro com algo chamado “Vinte Dicas para o Sucesso” ou coisa do tipo; segundo que, quando bati o olho, simplesmente me apaixonei pela capa: a menina de cabeça baixa, vulneravelmente triste e introspectiva imediatamente me cativou. Sem contar com o nome, é claro, que, somado à energia que emana do design da cover, nos faz pensar logo em algo dramático, obscuro e até fúnebre.

Já bastaria para me conquistar de cara e me fazer comprar apenas por esses atributos – ou seja: fazer uma compra irresponsável –, Acabadora. Entretanto, tive mais algumas deliciosas e surpreendentes surpresas que foram o bastante para me decidir pedi-lo de presente.

Além de ser um livro italiano e que fale sobre a Itália tradicional do século passado (eu sou perdidamente apaixonado por esse país e estou sempre tentando aprender de forma quase assustadora sobre o mesmo), o livro nos traz um enredo que simplesmente me arrebatou: uma garotinha, Maria, que, rodeada pela realidade de uma Sardenha supersticiosa e enovelada de regras e tradições antigas, é adotada pela misteriosa e poderosa Bonaria Urrai, uma mulher possuidora de uma estranha e quase macabra posição, se não uma função, tradicional no lugar onde vive. Os destinos dessas duas mulheres, presos a uma realidade e a eventos e acontecimentos dramáticos e poderosamente incisivos em suas vidas, personalidades e formas de pensar e agir, são desenvolvidos numa trama imponente, firme e arrebatadora por Michela Murgia – mulher que se tornou uma das autoras mais brilhantes que existem, na minha concepção.

Foi só depois que pedi que comecei a ler que me dei conta de que algo me angustiava em relação ao livro de Murgia: seu tamanho. Pela percepção que tive do enredo, simplesmente não conseguia imaginar como aquela mulher italiana conseguiria desenvolver um enredo tão poderoso como aquele em irrisórias 154 páginas. Eu realmente estava temeroso: o livro que minha amiga havia me dado com tanto carinho, no meu pensamento bobo, poderia se tornar uma grande decepção por não ter um enredo tão bem desenvolvido por conta do tamanho do livro. Eu não conseguia enxergar como Murgia conseguiria dar a tudo seu tempo e sentido em tão poucas páginas – simplesmente não conseguia. Mas é claro que eu estava sendo um completo melodramático, como percebi com o passar das páginas: Michela Murgia é uma mestra na adequação de tempo e espaço em enredo – ao menos foi, nesse livro que li. Isso pode parecer um ponto bobo para se sublinhar numa resenha, porém isso para mim é algo extremamente importante e deve ser tratado com muito cuidado. Já tive antes experiências com livros que, talvez por sua pressa em se adequar a certa quantidade de páginas “querida” pela maioria massiva dos leitores (de duzentas a trezentas páginas) – ou realmente por preguiça do escritor, sabe-se lá –, acabaram se tornando desastres melindrosos por não conseguirem dar um ritmo adequado ao que sua história pedia. Murgia soube fazê-lo com magnitude. Poucas vezes vi um livro tão completo, nesse sentido (menos vezes ainda com livros de menos de duzentas páginas; talvez seja o primeiro).

Acabadora é um livro rico, que retrata um drama familiar numa realidade interiorana, portanto cheio de demonstrações – retratadas de forma belíssima e fidedignas – da forma com que o universo nesse tipo de realidade funciona. Não se deve esperar de um livro assim floreios modernos e contemporâneos, em questão de tempo e espaço do enredo; espere o retratar do simples pensamento de uma cidade pequena, a complexidade das teias que formam as tradições seculares seguidas por habitantes de uma realidade como essa. Esperem o retratar de questões comuns pelo imaginário popular de uma Itália rural da segunda metade do século XX, o trabalho com a demonstração do sentimento e da psique de diversos personagens e caricatos comuns dessa época e habitualidade. Essas são coisas que verdadeiramente se podem encontrar no livro de Murgia.

Além, é claro, de uma escrita digna de ser aplaudida de pé. Tão belamente ornamentada, a escrita de Michela Murgia é serpeada por belas colocações de palavras e adjetivos – belas, não cansativas. É realmente bem chato quando um escritor isso faz para apenas embelezar o texto ou torna-lo pseudointelectual. Murgia não: sua escrita é natural, delicada, e realmente flui: é um livro que pode ser lido, dependendo do ritmo de leitura de cada um e identificação com o texto, com calmaria e prazer. E melhor, para aqueles que gostam de logo terminar leituras: como já dito, pequeno. Cento e cinquenta e quatro páginas, apenas.

A pequena grande obra de Michela Murgia, Acabadora, indubitavelmente é uma obra que não só superou expectativas, mas que também inspirou, instigou e, mais que tudo: ensinou. Sobre a Itália, sobre os costumes de uma vida tradicional, sobre bucólicos e sombrios costumes populares e sobre o quanto que a vida e a morte são fatores tanto relevantes quanto cruciais para a transformação de pessoas e seus destinos.