domingo, 13 de abril de 2014

de Michela Murgia, ACCABADORA (2009)



Título no Brasil: Acabadora;
Quem escreveu? Michela Murgia;
Editora: Alfaguara (selo da editora Objetiva);
Tradução: Federico Carotti e Denise Bottmann;
Gênero: Drama, Familiar, Ficção italiana;
Nota (de 0 a 5)5.


não tem fotinho de apresentação porque não achei na internet uma decente pra cortar
sorry.


Foi em alguma promoção relâmpago nesses sites grandes que vi Acabadora à venda, pela primeira vez. Eu nunca havia ouvido falar do livro, a verdade é essa, e talvez, sendo sincero, se eu houvesse o visto em qualquer outro lugar que não numa estante virtual sob o preço promocional irrisório (tão irrisório que quase ridículo) de dez reais não o haveria comprado. Pra falar a verdade mesmo, eu não cheguei nem a comprar o livro: mandei o link pr’uma amiga super legal e me aproveitei da data próxima do meu aniversário pra fazer a chantagem emocional costumeira.

“Compra pra mim?”, perguntei pra ela.

“Compro.” Ela disse prontamente. “Só porque é teu aniversário.”

E, apesar de ela não ter dito, aposto que completou em pensamento essa frase com “e porque tá com esse preço”.

Havia, acho, mais de trezentos livros em promoção, mas foi Acabadora que me chamou verdadeiramente a atenção, dentre vários. Pra começar, se você quer saber, essas promoções gigantes de sites gigantes são meio enganosas: eles só colocam livros que costumam não realmente interessar as pessoas para se livrar logo deles. Nada contra este tipo de livro e quem o lê, mas eu realmente não vou gastar dinheiro com algo chamado “Vinte Dicas para o Sucesso” ou coisa do tipo; segundo que, quando bati o olho, simplesmente me apaixonei pela capa: a menina de cabeça baixa, vulneravelmente triste e introspectiva imediatamente me cativou. Sem contar com o nome, é claro, que, somado à energia que emana do design da cover, nos faz pensar logo em algo dramático, obscuro e até fúnebre.

Já bastaria para me conquistar de cara e me fazer comprar apenas por esses atributos – ou seja: fazer uma compra irresponsável –, Acabadora. Entretanto, tive mais algumas deliciosas e surpreendentes surpresas que foram o bastante para me decidir pedi-lo de presente.

Além de ser um livro italiano e que fale sobre a Itália tradicional do século passado (eu sou perdidamente apaixonado por esse país e estou sempre tentando aprender de forma quase assustadora sobre o mesmo), o livro nos traz um enredo que simplesmente me arrebatou: uma garotinha, Maria, que, rodeada pela realidade de uma Sardenha supersticiosa e enovelada de regras e tradições antigas, é adotada pela misteriosa e poderosa Bonaria Urrai, uma mulher possuidora de uma estranha e quase macabra posição, se não uma função, tradicional no lugar onde vive. Os destinos dessas duas mulheres, presos a uma realidade e a eventos e acontecimentos dramáticos e poderosamente incisivos em suas vidas, personalidades e formas de pensar e agir, são desenvolvidos numa trama imponente, firme e arrebatadora por Michela Murgia – mulher que se tornou uma das autoras mais brilhantes que existem, na minha concepção.

Foi só depois que pedi que comecei a ler que me dei conta de que algo me angustiava em relação ao livro de Murgia: seu tamanho. Pela percepção que tive do enredo, simplesmente não conseguia imaginar como aquela mulher italiana conseguiria desenvolver um enredo tão poderoso como aquele em irrisórias 154 páginas. Eu realmente estava temeroso: o livro que minha amiga havia me dado com tanto carinho, no meu pensamento bobo, poderia se tornar uma grande decepção por não ter um enredo tão bem desenvolvido por conta do tamanho do livro. Eu não conseguia enxergar como Murgia conseguiria dar a tudo seu tempo e sentido em tão poucas páginas – simplesmente não conseguia. Mas é claro que eu estava sendo um completo melodramático, como percebi com o passar das páginas: Michela Murgia é uma mestra na adequação de tempo e espaço em enredo – ao menos foi, nesse livro que li. Isso pode parecer um ponto bobo para se sublinhar numa resenha, porém isso para mim é algo extremamente importante e deve ser tratado com muito cuidado. Já tive antes experiências com livros que, talvez por sua pressa em se adequar a certa quantidade de páginas “querida” pela maioria massiva dos leitores (de duzentas a trezentas páginas) – ou realmente por preguiça do escritor, sabe-se lá –, acabaram se tornando desastres melindrosos por não conseguirem dar um ritmo adequado ao que sua história pedia. Murgia soube fazê-lo com magnitude. Poucas vezes vi um livro tão completo, nesse sentido (menos vezes ainda com livros de menos de duzentas páginas; talvez seja o primeiro).

Acabadora é um livro rico, que retrata um drama familiar numa realidade interiorana, portanto cheio de demonstrações – retratadas de forma belíssima e fidedignas – da forma com que o universo nesse tipo de realidade funciona. Não se deve esperar de um livro assim floreios modernos e contemporâneos, em questão de tempo e espaço do enredo; espere o retratar do simples pensamento de uma cidade pequena, a complexidade das teias que formam as tradições seculares seguidas por habitantes de uma realidade como essa. Esperem o retratar de questões comuns pelo imaginário popular de uma Itália rural da segunda metade do século XX, o trabalho com a demonstração do sentimento e da psique de diversos personagens e caricatos comuns dessa época e habitualidade. Essas são coisas que verdadeiramente se podem encontrar no livro de Murgia.

Além, é claro, de uma escrita digna de ser aplaudida de pé. Tão belamente ornamentada, a escrita de Michela Murgia é serpeada por belas colocações de palavras e adjetivos – belas, não cansativas. É realmente bem chato quando um escritor isso faz para apenas embelezar o texto ou torna-lo pseudointelectual. Murgia não: sua escrita é natural, delicada, e realmente flui: é um livro que pode ser lido, dependendo do ritmo de leitura de cada um e identificação com o texto, com calmaria e prazer. E melhor, para aqueles que gostam de logo terminar leituras: como já dito, pequeno. Cento e cinquenta e quatro páginas, apenas.

A pequena grande obra de Michela Murgia, Acabadora, indubitavelmente é uma obra que não só superou expectativas, mas que também inspirou, instigou e, mais que tudo: ensinou. Sobre a Itália, sobre os costumes de uma vida tradicional, sobre bucólicos e sombrios costumes populares e sobre o quanto que a vida e a morte são fatores tanto relevantes quanto cruciais para a transformação de pessoas e seus destinos.

8 comentários:

  1. Olá!
    Não conhecia o livro.
    Gostei da temática e a narrativa me pareceu bem intensa.
    Dica anotada!
    Beijinhos
    Rizia - Livroterapias

    ResponderExcluir
  2. Oi Breno!
    Primeiro, parabéns pela resenha! Está muito bem escrita, sério :)
    Bom, não conhecia o livro nem a autora e quando você disse o pequeno número de páginas também criei esse pensamento bobo de leitor que talvez a obra não pudesse ter um final ou desenvolvimento adequado.
    Sua resenha super positiva me encantou, mas ainda assim, acho que esse simplesmente não é meu gênero de livro.
    A história parece interessante, mas não sei se essa premissa italiana, trazendo essa carga cultural específica tão grande possa me agradar tanto quanto você.
    Caso haja oportunidade, darei uma chance ao livro já que seus comentários me animaram, rs!
    Beijos,
    Ká Andrade
    http://teens-books.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Oie Breno =)

    Não conhecia o livro, mas pela sua resenha percebi que ele possui todos os ingredientes que aprecio em uma boa história.

    Parabéns pela resenha!

    Beijos e um ótimo feriado;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary


    ResponderExcluir
  4. Hey, Breno.
    O Estante Virtual é o meu céu <3. Já vi livros super desejos por 1,99 lá, sem falar que o frete é o mesmo para todo o Brasil e, na maioria das vezes, nem é caro! Fiquei curiosa com relação a capa, vou pesquisar mais sobre o livro.
    Beijos.

    memorias-de-leitura.blogspot.com

    ResponderExcluir
  5. Dramas familiares são os meus favoritos (Tolstoi, Jane Austen...), principalmente quando envolvem tradições e costumes. E a sua resenha foi tão bem feita, tão bem trabalhada que eu realmente senti a necessidade de ler esse livro. Você mostrou todos os detalhes e explorou absolutamente tudo o que o livro pode oferecer. Adorei mesmo. Parabéns.
    cronicasdeumlunatico.blogspot.com

    ResponderExcluir
  6. Oi,
    Não conhecia o livro, mas adorei saber que se passa na Itália, pois adoro esse país.
    O livro me despertou interesse e fiquei curiosa pela capa rs
    bjs

    http://entrepaginasesonhos.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  7. Me recomendaram a leitura desse livro um tempo atrás e eu achei bem interessante. Perdi a promoção devido ao fato que eu me proibi de ficar olhando os sites que vendem livros. Fiquei com mais vontade de ler depois da sua resenha, gosto de livros curtos quando o autor consegue desenvolver a história bem e gosto de narrativas bonitas.

    ResponderExcluir
  8. Oi Breno!
    Gostei bastante da sua resenha, mas acho que não é o tipo de livro que eu curto...

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

    ResponderExcluir