Nome no Brasil: Trapaça;
Gêneros: Drama/Policial/Comédia;
Roteiro: Eric Warren Singer e David O. Russell;
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper, Jeremy Renner, Jennifer Lawrence;
Nota (de 0 a 5): 5.

Desde que esse filme saiu que eu estava
perdido de vontade de assisti-lo. Eu sinceramente não tenho paciência alguma
para esses atrasos exorbitantes de lançamento no Brasil – isso é algo que
realmente me estressa, apesar de eu ter noção de todos os porquês disso –, então
quando o meu site preferido de Downloads liberou um RMVB legendado e bonito, eu
imediatamente coloquei pra baixar. Me estressava ver tantas premiações
acontecendo, tantas coisas no mundo do Cinema surgindo, e eu não entender a
maioria das coisas que os comentaristas e críticos diziam. Crítica ajuda, mas
não enche barriga e nem mata vontade: o negócio é assistir o filme. E, além de
tudo isso, um dos amores da minha vida da arte da atuação estava ganhando
inúmeros prêmios por sua interpretação nesse filme – não, não é a Jennifer
Lawrence (apesar de ter muitos bons comentários sobre essa moça nessa crítica)
–, e estava sendo uma traição eu demorar tanto tempo assim para dar-lhe o
merecido prestígio. Eu não poderia mais esperar para ver Amy Adams em American Hustle. Por isso que quando vi
na página inicial do site que o filme já estava disponível corri com o dedo,
cliquei e suspirei, animado e ansioso, quando o download começou. Logo, logo eu
veria se realmente aquele filme tão bem criticado e bem comentado supriria os
meus gostos e me surpreenderia.
E não é que foi isso mesmo que aconteceu?
American
Hustle (ou Trapaça, no Brasil) é um filme que se
passa na década de 70 e conta a história de uma grande trapaça de dois
talentosíssimos trapaceiros. Irving RosenFeld (Christian Bale) e Sydney Prosser
(Amy Fucking Brilliant Adams), após descobrirem
serem o que chamam de alma gêmea, resolvem criar uma agência falsa de
transações bancárias para conseguir dinheiro fácil de pessoas desesperadas.
Irving e Sydney crescem no negócio trapaceiro, até serem descobertos pelo
charmoso e interesseiro agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper), o qual
demonstra estar muito mais interessado nos negócios de trapaça que Sydney e
Irving poderiam imaginar. É assim que começa uma jornada pela inteligência do
crime, suborno, mundo político, traições e noitadas de gala e de dança:
conseguirão Sydney, Irving e Richie alcançar o novo grandioso objetivo?
Estariam mesmo eles sendo justos uns com os outros? Até que ponto em que a fidelidade
e a ambição podem andar juntas?
Diferente do que muitos podem pensar por
se tratar de um filme com uma temática um tanto policial e comediante, American Hustle é um filme com uma boa
densidade e pluralidade. Lembro-me que li em algum lugar que se tratava de um
filme “policial de comédia-dramática”, e olhei aquilo com ceticismo. Como
diabos algo poderia conter doses de um filme policial, apresentar comédia e
ainda envolver-nos em drama? Para mim, isso era impossível – até assistir ao
filme de David O. Russel. American Hustle
traz as doses clássicas de um filme policial – FBI envolvido num caso de
descoberta de crimes e no plano de fundo de capturas –, porém com uma dose
realista e interessante, já que o ponto policial converge quase totalmente em
Richie (Cooper), o qual definitivamente não se trata de um policial honesto. A
ambição é um ponto trabalhado magnificamente, atirado para todos os lados. É a
ambição que move o enredo. A ambição de Sydney (Adams) e Irving (Bale) os
impulsiona a criar um negócio grandioso de trapaças; a ambição de Richie o
induz a juntar-se aos trapaceiros e tirar seu próprio proveito deste mundo
criminoso; a ambição dos políticos os compromete com os enganadores para
conseguirem alcançar seus desafiadores objetivos, e assim por diante. E esta
ambição, que é aonde todas as linhas se cruzam, é o que consegue manter todos
os “gêneros” do filme em harmonia. A comédia, o drama: tudo é movido pelo
desejo de ter mais – e, por vezes, pela inescrupulosidade.
Nenhum personagem no filme é linear, algo
que me encantou bastante. Existe sempre algum tipo de mudança, em algum
momento, nos personagens – algo que, se não os muda completamente, ao menos os
balança profundamente e mexe com suas personalidades e índoles, coisas que
sempre trazem impacto para toda a história e suas próprias vidas. American Hustle também é,
essencialmente, um filme de muita intensidade. As emoções são muito bem
transmitidas para o expectador. Há uma cena, mais ou menos lá pra uma hora de
filme, que é o perfeito, perfeito exemplo disso: a cena em que Sydney está numa
danceteria com Richie, o policial. É uma cena de emoções intensas, e, talvez,
para a personagem de Adams, a mais significativa emocionalmente para a
personagem: é uma cena de liberdade. Liberdade, aliás, é o que sempre está
sendo buscado no filme, seja para qual for o personagem e qual seja o sentido
de liberdade. Acho que encontrei as duas palavras que definem o filme: ambição
e liberdade. É aonde o enredo gira em torno.
O filme também é muito engraçado. Gosto do jeito cru que o humor é exposto em filmes
com a temática de American Hustle:
não é um humor falso, maquiado. É um humor explícito, forte, às vezes pesado,
às vezes negro. O humor da vida real. Acho que a maior expressão do humor no
filme é a personagem de Jennifer Lawrence, Rosalyn – uma personagem digna de
nota, aliás, apesar de ser apenas coadjuvante. O humor extremamente irônico,
por vezes cínico, desleixado e até impetuoso no qual a personagem de Lawrence
gira em torno é incrível. É realmente uma personagem interessantíssima, já que
representa cabalmente a margem daquele mundo de trapaças. Rosalyn é a esposa
real de Irving, com a qual tem um filho, que está sempre à margem da vida do
marido e que por isso é tão perdida, confusa e amargurada. O medo também é
outra temática trabalhada na personagem Rosalyn: o medo de tentar, de ir em
frente. Porém, também ouso dizer que a maior expressão da liberdade do filme –
o que citei como sendo um dos maiores pontos do enredo – é também da personagem
Rosalyn. É realmente uma grande, grande personagem.
De forma alguma, entretanto, eu poderia
esperar tamanha inteligência na forma com que o filme foi destrinchado e nas
ações e pensamentos dos personagens. Existe uma clara diferença entre esperteza
e inteligência, e normalmente o que vemos em filmes desse porte é a pura
esperteza de malandro. Mas realmente não é assim, dessa vez, nesse caso. A
dupla Sydney e Irving é realmente inteligente,
coisa que se prova com tudo o que demonstram ter feito e planejado com tanta
sutileza e perfeição nos últimos
vinte minutos de filme. Poucas vezes fiquei com os olhos tão arregalados pr’uma
tela de notebook, para um filme, como fiquei nos momentos finais de American Hustle (minha miopia agradece).
É incrível. É realmente muito, muito bom. Surpreendente.
E já que dei tantas voltas ao redor de
atuação, vamos comentar isso propriamente, agora. Christian Bale e Bradley
Cooper estão bons, como sempre. São bons atores; tiveram uma boa atuação,
embora nada muito surpreendente. Entretanto, a dupla que realmente merece
aplausos, sem dúvida alguma, é Amy Adams e Jennifer Lawrence. Falando
primeiramente da querida e linda ruiva, Adams está grandiosa e diferente de
tudo o que você já pode tê-la assistido fazendo. Amy Adams está desafiadora.
Original. Gosto demais, demais, sempre amei – e por isso ela é uma de minhas
atrizes do coração – a forma natural com que Amy Adams atua. Há sempre um toque
Amy Adams em todos os personagens da
atriz, uma marca só dela, que é certa doçura e placidez. E tudo isso caiu
perfeitamente como uma luva no papel de Sydney, já que deveria ser uma mulher
manipuladora e sedutora. Por vezes, Amy Adams interpretou tão impecavelmente
bem seu papel que eu me perdi realmente nas percepções e acabei realmente me surpreendendo. Adams teve
de arcar com a personagem mais complexa do filme, e o fez muito, muito
belamente, corretamente e com muita classe. Realmente Adams merece os prêmios
aos quais está sendo indicada e aos quais está ganhando.
Mas eu não posso deixar de realmente
concordar com o que todo mundo está dizendo sobre ela, Jennifer Lawrence:
incrível. Com toda a sinceridade do mundo, eu costumava não gostar nada de
Jennifer Lawrence. Nunca entendi toda a grande babação de ovo que existe em
torno dela por causa da franquia Jogos
Vorazes, não a achava uma atriz tão boa quanto diziam. Simplesmente achava
Lawrence uma atriz comum, normal, como muitas outras. Entretanto, seu trabalho
como a personagem Rosalyn é absurdo, absurdo de bom. A entrega de Lawrence para
a personagem é de embasbacar. Você sente a personagem. Você entende, você se
envolve com a personagem – e realmente não acredito que coisas assim sejam só
pela personagem em si, excluindo a atriz. O trabalho de montar um personagem
envolve muito do psicológico do ator e do entendimento do mesmo sobre aquele
ser a ser atuado, e realmente percebe-se que a química que rolou entre Lawrence
e Rosalyn foi fabulosa. Não existe como imaginar outra atriz interpretando
Rosalyn. Jennifer Lawrence está brilhante, surpreendente, e – Deus do céu, como
é difícil falar isso, já que no cast
está uma das minhas atrizes favoritas... – realmente rouba a cena.

Vou dizer algo, aqui e agora, que é a
prova do quanto Lawrence me surpreendeu no quesito atuação e entrega ao
personagem: a última vez que vi tamanho potencial foi lá atrás, quando uma
atriz totalmente desconhecida encarou interpretar uma personagem de uma
adaptação cinematográfica de um grande best-seller. A atriz em questão
interpretou uma princesa, foi um grande sucesso, mas teve muitos dedos
apontados em sua cara por não ser assim considerada uma atriz tão grande. Hoje
em dia, essa atriz é uma das maiores de Hollywood, e, indubitavelmente, é uma
das coisas mais brilhantes que o Cinema já teve em questão de atuação. Vejo,
sinceramente, em Jennifer Lawrence, o potencial que não via em alguém desde
Anne Hathaway. E Deus queira que ela consiga se tornar tão grande como Hathaway
é, hoje em dia. Pois ela merece.
E, sim, a tão falada cena de Amy Adams
com Jennifer Lawrence é mesmo boa. Principalmente pelo que acontece no final da mesma.
Eu não havia percebido, até escrever esta
crítica, o quanto que American Hustle
foi um filme que mexeu comigo. E realmente, realmente mexeu. Um grandioso
filme, rico, com atuações surpreendentes e um bom ritmo, um bom texto (e, meu
Deus, uma EXCELENTE trilha sonora). Vale a pena conferir Trapaça, que em breve estreará nos cinemas brasileiros.
Não se esqueça de voltar aqui quando ver,
e comentar o que achou! Estou ansioso pelos seus comentários. E se já ao filme
assistiu, deixe sua opinião nos comentários!