segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

ensaio: CAPAS DE LIVROS - SOBRE PADRÕES DE MARKETING



Todo mundo costuma confundir pessoas famosas, sejam autores, sejam cantores, sejam atores. É muito mais fácil, é claro, você confundir Keira Knightley com Natalie Portman, ou Julia Roberts com Sandra Bullock, já que são parecidas fisicamente e estão direto aparecendo fisicamente nas mais populares mídias, do que confundir escritores, no entanto, que ainda estão numa margem um pouco distante em comparação a alguns outros tipos de arte mais adorados pelas pessoas (você sabe que é verdade – ainda que este quadro esteja, graças aos céus, mudando). Às vezes, os nomes são parecidos e você faz uma confusão ali, outra acolá (que nem meu amigo que insiste em confundir toda maldita vez Robert Jordan, autor de A Roda do Tempo, com “o carinha que escreveu o Percy Jackson”), mas nunca é nada demais, é só uma doidicezinha básica que nos acomete de vez em quando. A doidice, no entanto, que me fez confundir essas três autoras – a situação é muito pior, vejam: não confundi só duas, confundi três (o desastre foi consideravelmente mais desastroso que o normal) –, não teve muita explicação. E foi tão certa quanto, às vezes, algumas pessoas pensam que seus sonhos tidos pelas madrugadas aconteceram de verdade, em algum momento do passado: eu tinha certeza que elas eram a mesma pessoa. Como não poderiam ser?

Emily Giffin, Jane Austen e Nora Roberts.


Os títulos dos livros eram meio parecidos (na minha cabeça), os nomes também (céus, como diabos alguém vai confundir Emily com Nora?); as capas não se diferenciavam tanto – principalmente as das duas primeiras –, e os enredos sempre se assemelhavam de alguma forma. Era sempre um amor, que no meio tinha um drama, e depois se tornava algo legal de onde poder-se-ia tirar uma mensagem bacana pra sua vivência amorosa e eu sentimental. Não estou desprezando esse tipo de livro, veja bem: eu leio este tipo de literatura. Sou apaixonado por este tipo de texto. O que estou tentando explicar aqui é o quanto que alguns pontos dos estilos dessas escritoras de certa forma são próximos a ponto de me fazerem ver, na tríade, uma só pessoa. Pensando bem, na verdade, talvez eu esteja até agora tentando ver exatamente como diabos eu confundi essas autoras. Acho que o mais absurdo é ter metido a Jane Austen no meio. Ela tem quantos anos de diferença entre Roberts e Giffin, cem?

O fato é que eu aprendi a diferenciar as três grandes autoras – nunca vou me esquecer da cara de desprezo divertido que a minha amiga Jeniffer (a proprietária do Meu Outro Lado, aliás) fez pra mim quando eu disse que achava que Orgulho e Preconceito havia sido escrito pela Nora Roberts –, e isso de confundir escritores nunca mais aconteceu. Entrei de cabeça e estou afogado até agora nesse mundo bibliófilo maravilhoso, e aprendi a reconhecer nuances de obras, escritores e enredos – até porque resenho, então isso é algo necessário: você conhecer traços, detalhes de estilos de escritores. E é com esse novo ótimo conhecimento obtido pela experiência que finalmente percebi que existe realmente como nos confundirmos com algumas coisas na literatura, e que isso, de certa forma, é normal. Afinal: com uma enxurrada tão grande de literaturas e novos escritores nascendo pra todo lado, é impossível não cometer algumas confusõezinhas.

Mas o fato é que algumas coisas são propositais. Estão ali para causar certa confusão na cabeça do leitor justamente por uma questão de puro marketing. Eu realmente peço perdão a qualquer mágoa que posso causar em citar esse autor que é tão assustadoramente aclamado pelas pessoas e crítica, mas acho que não tem como fugir desta citação: Nicholas Sparks é o maior exemplo disso. Existe um padrão para esse autor, um padrão criado para que seus livros sejam identificados sem que você se preocupe muito em olhar a sinopse. É um padrão feito para você pensar: “Opa, é livro do Nicholas Sparks”. O exemplar é reconhecido tão obviamente que você, se é fã, já pega o livro com pressa, ou se não gosta do autor, já nem se digna muito em olhá-lo. Isso, apesar de ser um golpe de marketing e divulgação bastante astuto, tem seus furos quando se é considerada essa gama de pessoas que nem ao menos olha o livro por saber que o mesmo já é do autor em questão. Sparks escreve sobre romance, obviamente: este é seu estilo. Entretanto, existem obras e enredos do mesmo que sim, se divergem daquilo que é seu costumeiro e que possuem uma originalidade interessante, fatores que contribuiriam, sem dúvida alguma, para que os livros de Sparks alcançassem mais leituras e estantes. Não vou afirmar que algumas de suas publicações não alcancem leitores que não exatamente apreciam romances e seu estilo, mas se os designs de capa se alternassem, saíssem do que é comum – não fosse quase sempre um casal caucasiano se olhando e quase se beijando –, quem sabe o quanto mais a escrita do autor poderia alcançar? Um grande amigo meu (Jônatas, dono do Alma Crítica), leitor assíduo do autor, já me afirmou que existem leituras diferenciadas do que se tem ideia do que seja “livros de Nicholas Sparks”: livros lotados de exacerbado sentimentalismo. “Ele é realmente um bom autor”, ele me disse, “O problema é que todo mundo pensa que Sparks é só Querido John e Um Amor para Recordar, e não é bem assim”. Ele citou Um Homem de Sorte e O Melhor de Mim como leituras que apresentam propostas diferentes, do Nicholas Sparks. Vão entrar, sem dúvidas, pra minha lista de leitura, para que eu realmente tire isso a limpo. (Quando ela folgar um pouquinho, de preferência)

E não é só com Nicholas Sparks que isso acontece, aliás. Se você prestar atenção nas capas dos livros de Emily Giffin (sempre seu nome em letras garrafais escrito por cima de um fundo opaco, as capas com uma fotografia romântica e paisagista), nos de John Green (aquelas capas com estilo divertido, nerd, com fontes diferentes do usual), nos de Harlan Coben, nas de Cecelia Ahern (ela é quase o Nicholas Sparks versão feminina, nessa questão de capas – o último lançamento pela editora Novo Conceito deu uma diferenciada no que estava sendo publicado, graças aos céus), e de todos aqueles romances de banca, você notará padrões. É claro que padrões são estritamente necessários em alguns casos, como em séries de livros (como Percy Jackson, Harry Potter, Beautiful Creatures, Ciclo da Herança, As Crônicas do Gelo e Fogo) e nos casos de um design de capa padrão de todos os livros de alguma editora (o selo Alfaguara da editora Objetiva é exemplo), mas quando este design se torna taxador e obviador de uma obra por conta de um autor, eu pessoalmente discordo. Há um grande risco de tirar a identidade do livro e torna-lo vítima de prévios conceitos de leitores.

Como alguém que pretende um dia viver apenas de literatura e ter obras publicadas, honestamente não apoio este tipo de padrão de marketing e, ainda num espírito de total franqueza, não gostaria nem um pouco que fizessem isso com minhas obras. Consigo entender todo esse método de divulgação, e até consigo pensar que isso possa ser algo mais barato para as editoras (para quê pagar por outra ilustração de capas, e possivelmente por outro ilustrador, enquanto se tem ali um modelo de design pronto e viável?), e também inúmeros outros motivos e dificuldades de editoras no Brasil hoje em dia para bancar publicações e muitos dos caprichos de escritores, mas, como aspirante a escritor profissional, não concordo. Ainda que algo mais barato, ainda que algo não tão espalhafatoso ou As Crônicas do Gelo e Fogo (que, pra mim, é um exemplo cabal de um design de capa impecável – esse ilustrador francês, o qual o trabalho deve custar mais do que qualquer um de nós, reles mortais, pode pagar, é realmente brilhante), acredito totalmente que diferenciar e inovar são sempre opções válidas para surpreender e encantar aqueles que as editoras, os escritores, os revisores e todos os que trabalham com esse/nesse meio editorial querem impressionar e agradar: os leitores.


Mas acho que, talvez, tenhamos que esperar o dia em que a literatura no Brasil seja tão apreciada e valorizada como é em países como Inglaterra, Estados Unidos, França – e não vamos tão longe: Argentina também, logo aqui do lado. Talvez tenhamos que esperar este dia para que possamos exigir de nossas queridas e quebradiças editoras tudo o que realmente queremos quanto a publicação, divulgação e design. O que coloca sempre nós, que escrevemos críticas em relação ao mundo editorial brasileiro, em saias justas e entre a cruz e a espada. Afinal: entender o lado da editora? Entender o lado do escritor? Entender o lado do leitor?

Se possível, todos. Sempre todos.



O que achou do ensaio? Você concorda comigo, discorda? Deixe sua opinião nos comentários!

13 comentários:

  1. Concordo com você, no começo não estava entendendo muito bem onde você queria chegar, por não conhecer as obras da Emilly e da Nora, mas quando citou o Nicholas e especificou, cara, eu curto a escrita do autor, mas também concordo com você que as capas do mesmo envolve muito, mais muito mesmo marketing.
    PS: Diferente do que as capas querem passar, sabe fazer com que o leitor leve só por ser a capa padrão do autor e a pessoa comprar só pq já leu uns dez e muitas vezes ficar fazendo coleção, eu totalmente descordo, acho que se cada capa do sparks mesmo como exemplo fosse um estilo diferente aos meus olhos seriam bem mais atrativas.
    Até mais. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

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  2. Adorei o ensaio... Concordo com você quando se trata do marketing impresso nas capas de livros.
    Acho que é sim um instrumento importante, mas alguns autores que abusam de padrões na realidade vendem o seu nome, como no caso do Nicholas Sparks.
    Percebo também que há características comuns em determinados tipos de literatura, e não precisaria ser dessa forma.
    Acho que daria para ser mais atrativo se pensassem realmente no que os leitores gostariam.

    Beijos

    Meu Meio Devaneio

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  3. Oiee, tudo bem?

    Bom, eu sou meio polêmica com relação a capas. É verdade que algumas capas seguem certos padrões. Sinceramente, nada é tão terrível quanto o Padrão Nicholas Sparks. Pelo menos, os da Emilly Giffin vc ainda consegue distinguir qual é o livro referente aquela capa. Mas se tratando do Sparks, isso é beeeem dificil. Não curto capas de filme e as capas da Arqueiro são sempre idênticas.

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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  4. Oi Breno!
    Bom, eu não conheço as obras da Emily, então nem sou capaz de comparar haha Mas entendo o que quer dizer com relação ao Nicholas... Tenho uns cinco livros dele, e todos tem a capa igual, até a Edição de Bolso! E é impossível não ver por ai uma capa com um casal quase se beijando e não pensar "Ah ta, é do Nicholas!"... Particularmente, depois que li Querido John, perdi toda vontade de ler qualquer livro dele, então faço parte do grupo que foge quando vê esse tipo de capa hahah E já aconteceu do livro nem ser do Nicholas! Mas tinha lá, um casal abraçado e eu fugi. Talvez o livro fosse bom, mas nunca saberei porque nem li o titulo.
    Com certeza concordo que esse tipo de Marketing tinha que acabar. As capas deveriam ser diferentes, mesmo que do mesmo escritor... A não ser, claro, que seja uma saga... Sagas podem ter capas iguais, porque assim sabemos que é uma saga!
    Enfim, gostei muito do ensaio :D Você escreve super hiper bem!
    Beijos

    Blog Devolva Meu Clichê!

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  5. concordo com vc, esse padrão tinha que acabar, as capas deveriam ser diferentes, só manter o padrão se caso fosse sagas. Uma pergunta: Cadê criatividade?
    Brubs
    contodeumlivro.blogspot.com.br

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  6. Não creio! kkkkkk'
    Essas confusões acontecem mesmo, mas achei super engraçado. Fisicamente as três não tem nada a ver! Rsrs
    Eu sempre que leio procuro saber um pouco do autor, apesar de ter que lidar com "a morte" dele quando o livro nasce.
    Bjoss

    http://fotografiaeleitura.blogspot.com.br/

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  7. Acho que seria perda de tempo dizer que a maioria dos brasileiros é influenciado pela capa na hora de comprar um livro, por isso é tão essencial haver um bom trabalho nela e, é claro, técnicas de marketing para vender mais.
    Adorei o post e a ideia!

    memorias-de-leitura.blogspot.com

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  8. Gostei muito do post, e só concordo em tudo. Seu blog tem bons conteúdos *u*
    www.panda-blogueiro.blogspot.com

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  9. Mds, eu confesso, que demorei para entender aonde você queria chegar mas consegui e está tudo bem.
    Não sei se julgar a capa de um livro, e ver se ela segue padrões é algo bom ou ruim, creio que seja ruim, ser critico é uma coisa, exigir das coisas é outra.

    Não queria ver padrão nas capas, eu gostaria de ver profissionalismo e muita criatividade, eu acho que quanto mais criativa MELHOR. Meu ponto de vista não está claro aqui, e nem é pra ficar como já disse concordo com vc.

    XOXO :D | Joven Clube

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  10. Já tinha lido o ensaio antes, mas já tinha esquecido daquilo que concordei ou não com ele '-' Relendo, posso dizer que concordo que as capas que chegam a 'taxar' um autor ou um tipo de livro são prejudiciais. Principalmente com novos leitores que só sabem o que leem ou ouvem por aí de certos autores e gêneros literários. As capas padrões em uma série são lindas e muito bem-vindas, mas capas a lá Nicholas Sparks, realmente não me agradam.rs Se bem que as capas dos livros do David Nicholls são no mesmo 'padrão' que a capa do primeiro livro dele publicado por aqui: Um Dia e até que gostei. Mas enfim, acho que isso é bem relativo comigo.


    Beijos ><
    http://mon-autre.blogspot.com.br/

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  11. Nunca parei para pensar muito sobre isso. Lógico que já reparei que as capas do Nicholas Sparks são muito parecidas, mas realmente nunca pensei muito profundamente sobre isso. Acho que realmente eles fazem isso para vender mais livros, só pode ser.

    Beijos.

    http://livrosleituraseafins.blogspot.com.br/

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  12. Oii..
    Nossa não tinha parado para pensar nisso, sobre os livros de Nicholas Sparks. Mas é pura verdade. Não só livros dele, de outros é claro.
    Mas eu já pego um livro de Nicholas na mão por ser fã e depois penso em ler a sinopse..rs

    beijos
    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

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  13. Olá Breno,
    Um bom assunto a se levantar. Ainda não tenho uma opinião concreta, mas tentarei colocar em palavras alguns pensamentos aqui.
    Concordo que verdadeiramente esse padrão pode atrapalhar, levo também em consideração as capas do Nicholas Sparks, vejo que se há um preconceito só em ver. Uma vez fiz uma experiencia, apresentei a sinopse da história de "O Melhor de mim" para um amigo e ele achou o máximo, mas quando viu a capa, mudou de opinião num instante.
    Capa e diagramação, já fui muito ligado nelas... São extremamente importante e quando mal feitas podem fazer obras tão interessantes, caírem em esquecimento. Ou mesmo podem gerar puro preconceito.
    Não sei se faz algum sentido todas essas linhas, são pensamentos que me vieram ao ler seu texto.

    Parabéns pelo ensaio. Muito bom mesmo!

    Jônatas Amaral
    alma-critica.blogspot.com.br

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